segunda-feira, 4 de maio de 2009

Noticia Mundo




Crianças paquistanesas freqüentam uma das madrassas do país

The New York Times



A escola primária de Mohri Pur, uma aldeia pobre no Paquistão, poderia facilmente ser confundida com um celeiro. O chão é de terra, e não há luz elétrica. Corvos entram pelas janelas sem vidros.
O número de alunos recentemente ultrapassou os 140, e isso faz com que alguns deles tenham de assistir às aulas do pátio.
Mas se o Estado esqueceu as crianças locais, os mulás não o fizeram. Dada a ruína do sistema de educação pública do país, as famílias mais pobres do Paquistão vêm recorrendo às madrassas, ou escolas islâmicas, que alimentam e abrigam crianças e difundem uma forma de islamismo mais militante do que a tradicional no país.
A concentração de madrassas nesta região, o sul do Punjab, se tornou preocupação urgente diante da insurgência que se espalha pelo Paquistão. As escolas não oferecem muita educação para além da memorização do Corão, e criam um grupo crescente de jovens mentes simpáticas à causa dos militantes.
Em uma análise dos perfis de terroristas suicidas envolvidos em recentes ataques no Punjab, a polícia local afirma que mais de dois terços foram alunos de madrassas.
"Estamos no início de uma grande tempestade que vai varrer o país", disse Ibn Abduh Rehman, diretor da Comissão de Direitos Humanos do Paquistão, uma organização independente. "Para o Paquistão, é um alerta vermelho".
O presidente norte-americano Barack Obama declarou em entrevista coletiva na semana passada que estava "seriamente preocupado" com a situação no Paquistão, não menos porque o governo "não parece ter a capacidade de prover serviços básicos: escolas, saúde, um sistema de Justiça funcional, respeito ao Estado de Direito, de uma maneira que beneficie a maioria das pessoas".
Ele solicitou ao Congresso que mais que triplique a assistência não militar ao Paquistão, com prioridade para a educação. Desde os ataques do 11 de setembro, os Estados Unidos ofereceram ao Paquistão US$ 680 milhões em assistência não militar, de acordo com o Departamento de Estado, muito menos do que o US$ 1 bilhão ao ano em assistência militar.
Mas a educação jamais foi prioridade aqui, e até mesmo o atual plano paquistanês de dobrar o investimento em educação no ano que vem pode desabar, como aconteceu com idéias semelhantes no passado, devido ao desinteresse das elites paquistanesas quanto ao destino dos cidadãos mais pobres.
"Trata-se de um Estado que jamais levou a educação a sério", disse Stephen Cohen, especialista em assuntos paquistaneses na Brookings Institution. "Estou muito pessimista quanto à capacidade do governo para reformar o sistema educacional".
As famílias paquistanesas há muito recorrem às madrassas, ainda que as escolas religiosas representem uma pequena minoria entre as instituições de ensino do país. Mas mesmo entre a maioria que frequenta escolas públicas, o ensino tem inclinações islâmicas. O currículo nacional foi islamizado nos anos 80, durante a era do general Mohammad Zia ul-Haq, que dirigiu o país como resultado de um golpe militar e promovia a identidade islâmica do Paquistão como forma de criar uma identidade comum para a multiplicidade de tribos, etnias e linguagens que formam a população do país.
O nível de alfabetização do Paquistão melhorou ante os apenas 20% registrados na era da independência, 61 anos atrás, e o governo recentemente reformou o currículo e reduziu a ênfase no ensino islâmico.
Mas mesmo hoje, apenas metade dos paquistaneses são capazes de ler e escrever, um índice muito inferior ao de outros países com renda per capita comparável, como o Vietnã. Um terço das crianças paquistanesas em idade escolar não frequentam a escola, e mais um terço abandona os estudos antes da quinta série, de acordo com a Unesco. O índice de matrículas entre as meninas é um dos mais baixos do mundo, inferior ao da Etiópia e Iêmen.
"A educação no Paquistão foi completamente desdenhada", disse Pervez Hoodbhoy, professor de Física na Universidade Quaid-e-Azam, em Islamabad, e crítico franco do fracasso do governo no combate à expansão da influência dos extremistas islâmicos.
A região rural do sul do Punjab, onde o Talibã começa a avançar com a ajuda de grupos de militantes locais, abriga uma das maiores concentrações de madrassas do país.
Das mais de 12 mil madrassas registradas no Paquistão, cerca de metade fica no Punjab. Os especialistas estimam que os números sejam ainda mais elevados: quando o governo começou a tentar contar essas escolas, em 2005, cerca de um quinto dos distritos locais se recusou a prestar informações.
Ainda que as madrassas respondam por apenas 7% das escolas primárias paquistanesas, sua influência termina amplificada pela ineficiência do ensino público e pela religiosidade inata do campo, onde dois terços da população do país ainda vive.
A escola pública masculina de Mohri Pur é um claro exemplo das décadas de negligência que geram uma sensação de abandono pelo governo, entre muitos dos paquistaneses mais pobres.
Shaukat Ali, 40 anos, um homem alto e de aparência séria que trabalha como professor de quinta série na escola, diz que pediu ajuda financeira a todo mundo, recorrendo a diversas agências do governo e até a oficiais do exército. Um canal de televisão chegou até a fazer uma reportagem sobre o tema.
"O resultado", ele disse, "foi zero".
O funcionário do governo que responde pela fiscalização das escolas da área, Muhamed Aijaz Anjum, diz que conhece bem os problemas que a escola está enfrentando. Mas ele não tem carro ou escritório, e sua verba anual para viagens é de menos de US$ 200; por isso, declara que não tem como fazer coisa alguma para ajudar.
Tradução: Paulo Migliacci
The New York Times
Infortunio
Não tem nem o que comentar eles simplesmente dao o dinheiro e nao traçam metas e fiscalização significativas para o pais e de conhecimento de todos que o Taliban esta se espalhando no Paquistao e quem sofre mesmo é o povão naquela situação lastimavel francamente que infortunio...

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